GDF lança hoje um plano de enfrentamento ao crack, que virou uma epidemia.

Do correio Web. Mara Puljiz
Manoela Alcântara



A droga que não escolhe classe social e tem destruído famílias inteiras em todo o país e no Distrito Federal começa a ser combatida com maior rigor a partir de hoje. Às 15h, o governo lança o Plano de Enfrentamento ao Crack e a outras Drogas, orçado em R$ 65 milhões, que deverão ser gastos em quatro anos. Com esses recursos, o Executivo promete desenvolver ações que envolvem setores como a saúde, assistência social, educação e segurança. Entre as principais medidas, estão a construção de unidades e a contratação de profissionais para tratar os dependentes químicos. No total, 15 secretarias participam do programa, que será dividido em três pilares: prevenção, tratamento e repressão.

O lançamento do plano, que deve contar com a presença da presidente Dilma Rousseff, será feito pelo governador Agnelo Queiroz durante a inauguração do primeiro Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps AD) 24 horas da capital, localizado próximo à Rodoviária do Plano Piloto, no antigo Touring. A unidade terá um ambulatório móvel para atender a população de rua. O Correio obteve, com exclusividade, os detalhes do plano que pode servir de exemplo para todo o país (veja quadro). A primeira ação será contratar 250 profissionais para atuar nas unidades terapêuticas do DF e nos Caps AD.

Atualmente, a estrutura de assistência a dependentes químicos é insuficiente para a reabilitação de viciados. Existem apenas 12 Caps em todo o Distrito Federal, que hoje concentra mais de 2,5 milhões de habitantes. Apenas quatro são voltados para o tratamento de álcool e drogas. Além da unidade que será inaugurada hoje, a previsão é que até o fim deste ano mais seis Caps AD sejam construídos. Além do Plano Piloto, o tráfico e o consumo de drogas são problemas considerados críticos em cidades como Taguatinga e Ceilândia. Por isso, o governador vai autorizar a criação de Caps nessas últimas duas regiões. “Haverá um combate implacável ao tráfico nessas três cidades do DF, onde a presença da droga é mais agressiva. Vamos instalar no centro da cidade nossa área de segurança com policiamento permanente e varrer o tráfico das ruas, além de intensificar as ações nas portas das escolas. Brasília vai ser um exemplo para o Brasil no enfrentamento do crack”, garante Agnelo Queiroz.

Uma novidade do plano é a criação de um consultório de rua. Em uma van, psicólogos, médicos e agentes sociais vão trabalhar com os usuários. A princípio, o governo não quer fazer internações compulsórias, a exemplo da ação adotada no Rio de Janeiro. “O DF segue normas internacionais feitas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que preveem a impossibilidade da internação compulsória. Não vamos descumprir isso. As pessoas serão convencidas nas ruas a se tratar”, afirmou o secretário de Justiça, Alírio Neto. Porém, ele admite que se a equipe de tratamento perceber uma dificuldade do usuário em responder pelos próprios atos, a internação imediata pode ser feita com autorização judicial.

Quadro preocupante
As ações voltadas para o combate ao uso e tráfico de entorpecentes tentarão reverter um quadro preocupante no DF. O crack, a droga da vez, virou epidemia. O consumo na Rodoviária do Plano, um dos pontos críticos, ocorre à luz do dia e a poucos quilômetros da sede dos poderes local e federal. A reportagem do Correio percorreu ontem a área central de Brasília e, entre as cenas chocantes, se deparou com uma criança de 13 anos caída em meio a um monte pombos e debaixo do sol escaldante. O tio dele, Paulo* (leia depoimento na página 22), tinha acabado de chegar do Cruzeiro, onde passou o dia catando latinhas. Ele contou à reportagem que chega a ganhar R$ 12 por dia, mas gasta tudo com o crack e comida. “Quando passo mais de dois dias sem usar crack, fico tremendo todo e tenho que ir para o hospital.”

O plano deve oferecer tratamento a adolescentes como aquele que dormia ontem na rodoviária sob efeito do crack, mas também coibir a proliferação da droga. Um levantamento de todas as áreas de risco está sendo feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para que as ações de repressão possam ser pontuais e eficazes. Utilizadas com sucesso no Reino Unido e em outros países, as câmeras de segurança também estão no plano do DF. Inicialmente, 18 delas com alta tecnologia serão instaladas para facilitar a identificação de traficantes.

Além disso, todas as delegacias terão setores de repressão ao tráfico. Profissionais treinados e especializados estarão prontos para identificar possíveis pontos críticos e atender à população. Será ampliada ainda a execução dos mandados de prisão contra os traficantes. “É preciso ser implacável, enérgico, na luta contra as drogas. Não dá para a gente permitir que crianças, adolescentes e adultos sejam escravizados pelo crack”, diz o governador Agnelo Queiroz.
GDF lança hoje um plano de enfrentamento ao crack, que virou uma epidemia. GDF lança hoje um plano de enfrentamento ao crack, que virou uma epidemia. Reviewed by Douglas Protázio on quarta-feira, agosto 31, 2011 Rating: 5

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