Programa Saúde da Família agoniza no Distrito Federal
Falhas críticas no Saúde da Família atormentam a população e os
servidores públicos do Distrito Federal. Na propaganda, o governo Rollemberg
(PSB) brada números crescentes da cobertura da Atenção Básica. Mas na vida
real, o diagnóstico do programa aponta para equipes sobrecarregadas e sem a
mínima estrutura de retaguarda para o tratamento de pacientes. As informações são do jornal de Brasília.
O reforço da Atenção Primária é o passo correto para retirar a saúde
pública de Brasília do atoleiro, pois foca na prevenção de doenças e, assim,
desafoga os hospitais. Segundo a presidente do Sindicato dos Enfermeiros
(SindEnfermeiro), Dayse Amarílio, para inflar as estatísticas, o governo
desmontou os antigos serviços da Atenção Básica, sobrecarregando o novo modelo.
Além disso, não tirou do papel a estrutura para a continuidade do tratamento
dos pacientes após o primeiro diagnóstico do Saúde da Família, dentro da rede
pública.
O modelo entra em estado de agonia com a sobrecarga do número de
pacientes por equipe. O Ministério da Saúde (MS) sugere 3.750 pessoas para cada
time. O projeto de Brasília teria a linha de corte de 4 mil. Mas esta fronteira
seria desrespeitada, com respaldo de dados demográficos defasados.
Uma área de Ceilândia com 40 mil habitantes, por exemplo, conta com
somente 6 equipes. O drama se repete, de maneira mais preocupante, no Riacho
Fundo, Planaltina, São Sebastião, Sobradinho, Samambaia, Paranoá, Itapoã e
Recanto das Emas.
Hoje, a Assistência Primária funciona como uma porta aberta de emergência. Não nos negamos, mas precisamos das condições para trabalhar. Não conseguimos fazer o cadastro da população, acompanhamentos, nem fazer as visitas preventivas. Está tudo parado. Fazemos atendimento de urgência e emergência, denuncia Dayse.
Na avaliação do presidente do Sindicato dos Médicos (SindMédicos),
Gutemberg Fialho, a distorção do programa detona uma onda de faltas e licenças
médicas entre os servidores. “O discurso do governo sobre o (programa) Saúde da
Família é uma grande ‘fakenews’. Está todo mundo sobrecarregado e adoecendo”,
resume.
Ao mesmo tempo, a rede começa a gerar sinais de falência da Atenção
Básica. Conforme o balanço da Cobertura da Atenção Básica, produzido pelo MS, a
presença do Saúde da Família no DF saltou de 28.67% em janeiro de 2015 para
39.39% em abril de 2018. Mas a Atenção Básica regrediu de 61.09% para 58.73% no
mesmo período. O grande problema é que em Brasília o Saúde da Família é a
Atenção Básica.
A conta fica mais amarga com o desempenho dos procedimentos de produção
ambulatorial da Secretaria de Saúde. Em 2016, foram feitas 9.149.777 consultas.
No entanto, em 2017, os atendimentos à população recuaram para 9.021.798. Cento
e vinte e sete mil a menos.
População e servidores desistem
Massacrada pelo baixo desempenho do Saúde da Família, a população começa
a desistir da rede pública.
O pessoal está se automedicando, abre umas páginas na internet e compra os remédios. E quem não tem dinheiro vai levando até cair doente para ser internado em um hospital, se tiver sorte, lamenta o pintor Hinio Marcelino de Sousa Ribeiro, 47 anos, que é líder comunitário da Guariroba, em Ceilândia.
Hinio e a comunidade da região batalharam para manter a Unidade Básica
de Saúde da região aberta, junto com o Saúde da Família. Perderam a queda de
braço. Atualmente, as equipes da região mal dão conta de fazer o cadastramento
da população. E os postos de saúde das vizinhanças não seguram a barra dos
atendimentos. Para Hinio, no estado atual, o novo programa é inútil e afasta a
população da Atenção Primária.
Em relatos reservados, com medo de perseguições, servidores na ponta e
na área administrativa revelam o descompasso do programa.
O descaso da gestão é assustador. O governo não escuta. Estamos abandonados. Não consigo mais atender ninguém. Se receber um paciente, acabo em uma emergência, desabafa um personagem.
Segundo outra voz, o Saúde da Família é o remédio certo para a rede, mas
a dosagem errada o transforma em veneno.
Todo o sistema está sucateado e funcionando mal. Já está em colapso. As equipes foram mal formadas. A gente se sente péssimo. Muita gente pensa em sair, inclusive eu, crava.
Prometendo melhora, GDF nega descaso
A estrutura de retaguarda do Saúde da Família começará a ser construída
neste ano. Segundo a coordenadora de Atenção Primária de Saúde, Alexandra
Gouveia, as normativas para a construção dos serviços secundários e novas
policlínicas serão concluídas até o fim de julho deste ano. Para a gestora,
apesar das críticas dos servidores, o GDF está no caminho certo.
A Saúde da Família não é a estratégia perfeita. Mas é a melhor estratégia, garante.
Na versão do governo, o senso para o dimensionamento das equipes tem
como base os cálculos mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). “Nenhuma equipe nossa cadastrou mais de 4 mil habitantes”,
declara Gouveia. Caso aja uma “sobrecarga”, o GDF pode fazer um remanejamento
de pessoal, completa.
Houve aumento de equipes na Estrutural e já está no forno a ampliação de
times no Paranoá Parque. Sobre os números do Ministério da Saúde, a
coordenadora argumenta que, para o Governo Federal, o DF não é mais avaliado
pelo balanço da cobertura, justamente por adotar modelo exclusivamente fincado
no Saúde da Família.
Quanto à queda de 127 mil consultas citadas na primeira parte da
matéria, a justificativa é que houve uma mudança de sistema entre 2016 e 2017
e, por isso, dados foram perdidos. O DF possui 347 equipes registradas no MS.
“Mas temos 540 (equipes) em formação. Precisamos superar um problema jurídico
para contratar agentes comunitários para elas”, completa Gouveia.
Conforme o relato da coordenadora, existem equipes engajadas com o
programa.
O processo de formação é contínuo. E os servidores têm espaço para o aperfeiçoamento. E, no próximo concurso, chamaremos médicos especialistas em Saúde da Família, conta.
Alexandra não possui números do absenteísmo, mas estuda o fenômeno no
Paranoá, Itapoã e São Sebastião. A quantidade de desistências também é um dado
nebuloso. Com perfil técnico, ela nega uma condução política do programa em
2018, ano em que o governador batalha pela reeleição.
Programa Saúde da Família agoniza no Distrito Federal
Reviewed by Diário de Ceilândia
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segunda-feira, junho 04, 2018
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